Caminhos para a Igualdade: Equilibrando Carreira e Vida Pessoal no Século XXI
No século XXI, enfrentamos desafios complexos em relação à equidade de gênero e à conciliação entre carreira e vida pessoal. A disparidade salarial entre os gêneros permanece um desafio significativo. Claudia Goldin, premiada com o Nobel por suas destacadas pesquisas, explora em seu livro Carreira e Família; como as decisões profissionais e familiares influenciam significativamente as oportunidades e rendimentos das mulheres. De forma complementar, dados do McKinsey Global Institute mostram que o fosso salarial por experiência de trabalho; constitui cerca de 80% da diferença total entre os gêneros, resultando em uma perda de 27 centavos por dólar para mulheres trabalhadoras nos EUA.
Ao longo de uma carreira de 30 anos, a diferença salarial entre os gêneros representa aproximadamente meio milhão de dólares em ganhos perdidos por mulher. Segundo Goldin, esse fosso é majoritariamente influenciado por decisões tomadas durante a fase de criação dos filhos. Muitas mulheres optam ou precisam reduzir suas horas de trabalho ou aceitar posições menos exigentes, impactando diretamente seu desenvolvimento profissional. Além disso, a jornada dupla de trabalho, onde as mulheres, além de atuarem profissionalmente, assumirem desproporcionalmente as responsabilidades domésticas, frequentemente resulta em burnout.
A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR 1) no Brasil, que agora reconhece o burnout como uma condição de saúde ocupacional, ressalta a importância de considerar o impacto desse esgotamento nas mulheres que enfrentam jornadas duplas e tem menos flexibilidade. Essa mudança normativa destaca a necessidade de ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis, assegurando que todas as organizações realizem a identificação, gerenciamento dos riscos ocupacionais e implementem medidas de prevenção e correção dos mesmos.
Além do cuidado com os filhos, outro desafio significativo que afeta as mulheres é o cuidado com pais idosos. Essa responsabilidade adicional, muitas vezes chamada de;cuidado intergeracional, recai predominantemente sobre as mulheres e amplia suas responsabilidades fora do trabalho, afetando ainda mais suas oportunidades de carreira e seu bem-estar emocional.
Outro ponto essencial é a escolha de carreiras com maior controle sobre o tempo ou que permitem o trabalho em meio período, popularmente chamadas de profissões femininas. Embora tais posições ofereçam a vantagem da flexibilidade, elas geralmente são caracterizadas por salários inferiores e menos oportunidades de progressão, perpetuando assim a desigualdade salarial.
Além disso, observamos uma tendência crescente de postergação da maternidade, acompanhada de queda na taxa de fertilidade. Muitas mulheres optam por adiar, ou mesmo renunciar, à maternidade em favor de suas carreiras, enquanto outras enfrentam dificuldades em conceber após adiá-la. A introdução da pílula anticoncepcional foi um divisor de águas nesse cenário, possibilitando maior controle sobre as decisões reprodutivas e permitindo fazer um planejamento mais estratégico das carreiras. Recentemente, avanços na fertilização in vitro (FIV) viabilizaram novas possibilidades para aquelas que desejam conceber após os 40 anos, embora apresente desafios emocionais e financeiros consideráveis.
Para Goldin, abordar a disparidade salarial de gênero implica compreender como essas escolhas e dificuldades afetam desenvolvimento profissional das mulheres. Apesar de as trajetórias profissionais das mulheres serem tão dinâmicas quanto as dos homens, elas frequentemente acabam em posições de menor remuneração após pausas no trabalho durante a maternidade ou para cuidar dos pais idosos, afetando negativamente suas perspectivas de progressão.
Atualmente, há empresas que estão adotando práticas mais inovadoras e inclusivas, promovendo a equidade de gênero no ambiente de trabalho. Essas organizações incentivam a mobilidade interna e o desenvolvimento contínuo de habilidades, criando um ambiente que possibilita a todos, independentemente de gênero, alcançar plenamente seu potencial profissional.
Políticas públicas que sustentem a contínua participação feminina no mercado de trabalho—como licenças parentais flexíveis, maior disponibilidade de serviços de cuidados infantis e de idosos, e incentivos à igualdade de gênero—são essenciais no equilíbrio necessário desta balança.
A verdadeira paridade salarial e profissional, conforme Goldin indica, será finalmente alcançada somente quando homens e mulheres compartilharem de forma mais justa as responsabilidades familiares, criando uma atmosfera de trabalho que permita a todos prosperar em condições equitativas.
O século XXI é marcado por inovações tecnológicas, trabalho remoto, e uma ênfase crescente em diversidade e inclusão. A digitalização e a economia gig oferecem novas oportunidades de carreira, mas também desafios relacionados à segurança e benefícios laborais.
Mudanças demográficas e a demanda por práticas sustentáveis exigem que empresas se adaptem continuamente. Neste contexto, profissionais de desenvolvimento humano e organizacional têm a oportunidade de guiar tanto indivíduos quanto empresas através dessas transições. Eles podem promover ambientes de trabalho inclusivos e adaptáveis, que atendem às necessidades contemporâneas, respeitando as escolhas pessoais e de carreira.
Em suma, profissionais comprometidos com o desenvolvimento humano em diversos contextos podem se tornar interlocutores valiosos, auxiliando as mulheres em seu processo de escolha profissional e de carreira. Ao considerarem o impacto de decisões pessoais nas trajetórias profissionais, esses profissionais não só apoiam a criação de ambientes mais inclusivos e diversos, mas também ajudam indivíduos a explorar suas opções - ou a lidar com a falta delas.
Dessa forma, podem promover espaços onde todos possam alcançar seu potencial de forma justa e significativa, incentivando, ao mesmo tempo, as empresas a criarem uma cultura que reconheça e acomode os desafios únicos enfrentados pelas mulheres neste século.
Referências
Goldin, C. (2024) - Carreira e família: A jornada de gerações de mulheres rumo à equidade. São Paulo: Companhia das Letras
Madgavkar, A., Ellingrud, K., Smit, S., Bradley, C., White, O. Chockalingam, K.(2025). Tough trade-offs: How time and career choices shape the gender pay gap. McKinsey Global Institute. The McKinsey Company.
Comentários
Postar um comentário