RECURSO HUMANO, OU SER HUMANO?




Certa vez participei de um evento no qual expoentes do setor de comunicação falaram sobre as próprias carreiras. Em determinado momento, um deles disse que se considerava uma pessoa muito feliz, e deu o motivo ;Aos 17 anos de idade eu descobri para o que eu servia. Eu era bom na escrita e no desenho, e foi natural que eu me tornasse publicitário;. Ao longo de sua fala reiterou a importância de;descobrirmos o mais cedo possível, para o que servimos;. Fiquei muito incomodada com a fala dele.

Talvez como profissional da publicidade, seja natural que ele tenha uma visão utilitarista das coisas, mas, como profissional comprometida com o desenvolvimento humano, não consegui concordar com ele.


É compreensível que a área financeira considere o ser humano dentro da organização como custo, restringindo-se a seus aspectos quantitativos e financeiros.

Nessa perspectiva, é natural que as pessoas t;adequadas para cumprir determinadas tarefas; sejam contratadas, da mesma forma como o departamento de compras adquire os insumos necessários para a produção. Além de ‘atribuir emprego ou ocupação a alguém; contratar: empregar pessoas carenciadas (EMPREGAR, 2021), encontramos outro significado para ‘empregar’:


‘Empregar, servir-se, usar, utilizar – Empregar é fazer aplicação especial de coisa ou pessoa, segundo suas disposições naturais. Servir-se é aplicar em proveito próprio, segundo o poder de assim fazer. Usar é fazer uso, empregar frequentemente. Utilizar é tirar a utilidade que a coisa tem” (NASCENTES, 1981, p. 240).

Essa visão utilitarista do ser humano continua presente nas empresas e no mundo do trabalho, a tal ponto de contaminar os critérios para a escolha profissional dos nossos jovens, pois eles sentem que precisam descobrir logo ‘para o que servem’, ao invés de buscarem saber ‘o que serve para eles’.

 Temos aqui um outro campo de aplicação dos conceitos HumanGuide: orientação de carreira.

Existe consenso sobre a dificuldade de reter profissionais da geração millenial. Muito provavelmente, isso se deve ao fato dessa geração buscar algo que seja significativo para eles, que vá ao encontro do que estão buscando, que tenha um propósito. Esses jovens profissionais não querem ser simplesmente ‘empregados’ pela empresa, pois estão em busca da satisfação de necessidades subjetivas, que vão muito além de querer servir para algo, ou ganhar dinheiro.

Querem fazer a diferença na vida das pessoas e se orgulhar do que fazem. Querem sentir que fazem parte da empresa, e não são um instrumento a serviço dela. Querem ser reconhecidos e, principalmente, querem fazer o que gostam e sabem fazer. O desalinhamento das necessidades da empresa com essas necessidades frustra e decepciona ambos os lados. Essa decepção pode culminar com a troca do profissional por parte da empresa, ou de empresa pelo profissional.


Além disso, a dimensão subjetiva está associada ao envolvimento do profissional com a tarefa, pois tem relação direta com a motivação intrínseca: quem faz o que não gosta de fazer, nunca se envolverá com a melhoria do que está fazendo. Sem motivação, é provável que a pessoa desenvolva suas atividades profissionais com envolvimento mínimo, de forma mecânica, e aguarde ansiosamente pelo final do expediente para que possa, finalmente, desenvolver uma atividade que lhe traga maior prazer e seja mais significativa.

 É cada vez mais frequente encontrarmos profissionais ‘bem sucedidos’ infelizes e insatisfeitos com a profissão que exercem, e que estão dispostos a dar uma guinada radical e a abrir mão de uma polpuda remuneração para poder se dedicar a algo que faça sentido para eles. 

O trabalho voluntário é um claro exemplo disso.

Não adianta usar nomes bonitos e politicamente corretos, como gestão de talentos, capital humano, fator humano, gestão de pessoas, gestão de gente, para citar alguns exemplos. O que interessa para o novo profissional é ser reconhecido como indivíduo, e não como um recurso.... humano. Eles querem fazer a escolha certa, não querem ser apenas escolhidos. Saber para o que servem, não serve mais!




Referências:

EMPREGAR. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Disponível em:

https://www.dicio.com.br/empregar/. Acessado em 14/06/2021/

NASCENTES, Antenor. Dicionário de Sinônimos. 3ª ed. – Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1981.



Comentários

  1. Giselle, I like very much what you are writing. A very crucial decision is your job direction. A bad choice, then you will not be happy in your life. The same to choose your life partner. For both you can use the HumanGuide concepts.

    One advice I very often repeat for young people: Try a big variety of tasks, when you are young, so you don’t discover something, when you are e.g. 40 years old…

    Motivation is also crucial. One of Sweden’s best skiers – Ingemar Stenmark – was in an interview with a journalist, who said: You are lucky, who has got so many medals. – The more I train, the more luck I have, commented Ingemar. Then you understand the importance of motivation, otherwise less training… Therefore, it is important to identify your drives – e.g. with the HumanGuide concepts;-)

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