SOU VISTO, LOGO EXISTO.

 





Causar impacto, surpreender, divulgar, promover, ser visto... ver.... 

Big Brother, Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, LinkedIn... 

As vitrines digitais fizeram com que, aos poucos, o que era da esfera privada se tornasse pública.

A imagem agora é tudo! O sucesso é medido a partir dos likes, da quantidade de visualizações e seguidores, do nível de popularidade, do poder de persuasão, da viralização dos conteúdos gerados. 

Influencer... Youtuber... Como tornar-se uma marca? 

O objetivo passou a ser engajar cada vez mais pessoas, conquistar um grande público fiel, expectadores dos detalhes da vida cotidiana, de um estilo de vida glamoroso, das habilidades culinárias... O sucesso nas mídias sociais por meio da elevada visibilidade, tornou-se algo rentável, na medida em que os influencers passaram a ser remunerados e a ocuparem o espaço da antiga propaganda.

Trata-se, porém, de um lugar muito delicado, desprotegido. Comparemos os influencers com os atores, por exemplo. Enquanto o ator incorpora personagens bem diferentes de si mesmo no palco, trocando-os por outros a cada nova peça teatral, o influencer se apresenta tal qual é diante da câmera. Se o primeiro se apresenta para um público visível, cuja reação ele vê e sente imediatamente, o influencer se expõe para um público que não vê, cujo rosto desconhece, e cuja reação só vai conhecer mais tarde, por meio dos likes ou postagens. A qualidade do trabalho do ator é expressa por meio da sua capacidade de ser quem não é. O influencer, por sua vez, deve ser quem ele é, pois é uma modalidade de reality show, do “show da vida”.

Ao abordarmos esse tema, estamos nos referindo ao fator Exposição no HumanGuide, cuja essência está associada ao mecanismo filogenético de busca de proteção e segurança, por meio do esconder-se em uma situação de perigo e ameaça, bem como da ocultação de emoções e de características das quais o indivíduo se envergonha, ou acredita não serem valorizadas. Entretanto, esse mesmo fator está associado à desavergonhada exibição de si mesmo, à exposição pública da esfera privada e ao desejo de reconhecimento.

O fator Exposição tem a ver com os códigos sociais, pois assim como ergue a barreira da vergonha e da moralidade, relacionada a um determinado tempo e espaço, cria um mundo irreal da imagem e de mentira, uma persona que serve de escudo e refúgio face ao perigo de não ser aceito e valorizado pelos outros. Esse fator também faz com que o indivíduo se exponha sem pudor ou vergonha, destruindo as barreiras inibitórias, colocando na vitrine do seu ser o desejo de reconhecimento, para que possa atingir o objetivo de ser amado e protegido.

Voltemos às mídias sociais. O que acontece quando o pretendente a influencer não é reconhecido? Quando todo o seu esforço e aquilo que faz é ignorado? Quando o influencer e a celebridade são ‘cancelados’ ou perdem seus seguidores e admiradores?

É negação da possibilidade de atenderem às suas necessidades de reconhecimento. É um ato de boicote, de punição, por meio do ostracismo. A cultura do cancelamento, tida como um fenômeno recente, é uma prática antiga. O ostracismo já era praticado no século V a.C em Atenas. Era uma forma de punir o cidadão que atentasse contra os valores vigentes, por meio do banimento ou do exílio por um período de dez anos, após votação pública. O nome do eleito ao banimento era escrito pelos cidadãos sobre um pedaço de cerâmica, denominado ostracon, e deixado na ágora para contagem. Daí o nome ostracismo. Ao invés de banir da cidade, o banimento passou a ser das mídias sociais. O paredão no Big Brother é muito parecido com isso.

A exemplo do que ocorria na Grécia antiga, ao serem ignorados e perderem os seguidores, os influencers perdem não só o carinho e o respeito dos antigos admiradores, mas, também, o lugar que ocupavam na sociedade. Ao infringir os códigos sociais, são punidos com a invisibilidade. Essa situação atinge duramente a saúde psicológica daquele que foi cancelado, abrindo caminho para a depressão, ansiedade, crises de pânico, consumo elevado de álcool e outras drogas, podendo até mesmo levar ao suicídio. Assim como Sócrates, que preferiu a sentença de morte por cicuta à saída de Atenas, ainda hoje a morte social pode resultar em morte real. 

A natureza humana continua a mesma. O que mudou foi a maneira como as necessidades humanas se manifestam. 


 


Comentários

  1. Muito bom Giselle 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  2. Muito bom. Como sempre a Giselle consegue expressar-se através da escrita.

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  3. Clareza e precisão em cada palavra de quem desenvolveu olhar analítico das metamorfoses do “palco giratório” da atualidade e da dinâmica psíquica e as expressões do sujeito atual.
    Jardelson Brito - psicólogo de orientação szondiana.

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  4. Excelente texto! Muito coerente. Parabéns!

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