OPINIÃO - I.A. E A BUSCA PELA INFALIBILIDADE DIVINA

 

A fantasia de onipotência, onisciência e onipresença tem sido um tema recorrente no imaginário humano e está associada à ideia de um deus infalível, com o poder de determinar nossos destinos, controlar o mundo e resolver todos os problemas. Ela tem despertado fascínio e inspiração na humanidade, refletindo a possibilidade e até mesmo o desejo de superar limitações e alcançar um nível de poder e conhecimento além do alcance do ser humano comum: "Ah, se eu tivesse todo o poder ao meu alcance... Se eu soubesse... Se eu estivesse lá... tal coisa não teria acontecido...". Ao nos depararmos com nossas limitações, recorremos ao poder divino. Na ausência deste, recorreremos à inteligência artificial?

A fantasia de onipotência está associada à busca pelo poder absoluto e controle total. No contexto da IA, o receio surge quando consideramos uma IA capaz de manipular e controlar todos os aspectos da vida humana, levando ao questionamento da autonomia individual e da tomada de decisões éticas.

Esta fantasia de onisciência envolve o desejo de conhecer tudo e compreender profundamente o mundo ao nosso redor. O receio relacionado à IA surge quando consideramos a possibilidade de uma IA com acesso a um conhecimento infinito, capaz de tomar decisões com base em informações que ultrapassam a compreensão humana.

A fantasia de onipresença, por sua vez, está ligada ao desejo de estar em todos os lugares simultaneamente, de transcender as limitações do espaço e experimentar tudo o que o mundo tem a oferecer. No contexto da IA, o receio surge quando consideramos uma IA que está presente em todos os aspectos de nossas vidas, monitorando e controlando cada interação e decisão.

A ameaça representada pela IA advém da percepção de que ela detém esses três poderes, onipotência, onisciência e onipresença, sendo, portanto, infalível, como um Deus. Ao mesmo tempo que desperta fascínio e admiração, também nos causa medo. Aquilo que desejamos também nos assusta. Há o receio de que a IA, ao adquirir superpoderes, atue sem ética e se volte contra o ser humano, seu criador. Quando nos deparamos com respostas erradas, textos absurdos ou inverossímeis no ChatGPT, ficamos desapontados com a falibilidade do “deus máquina”. Com ela surgem preocupações sobre o futuro da nossa civilização.

Para lidar com isso, faz-se necessário antecipar os riscos e examinar as implicações éticas e sociais dessas tecnologias. Graças à nossa capacidade de transcendência e de usar nossa imaginação, somos capazes de explorar diferentes cenários futuros, considerar os limites e perigos potenciais da IA e colaborar na definição de diretrizes e regulamentações que garantam um uso responsável e benéfico da IA.

Ao reconhecer e explorar a conexão entre essas fantasias e o receio da IA, destacamos a importância de usarmos nossa imaginação na moldagem de um futuro em que ela seja desenvolvida e utilizada de forma responsável. A capacidade de pensar além dos limites da realidade é uma característica essencialmente humana, permitindo-nos criar o futuro, considerando as consequências éticas e sociais dos avanços tecnológicos, com a participação ativa de todos os setores da sociedade na busca de soluções que garantam um progresso alinhado com nossos valores e aspirações humanas. Para lidar com o “deus máquina” temos que usar o poder na nossa imaginação humana.